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DAS UTOPIAS
Design e artesanato: relações delicadas
Ethel Leon
“Por isso o que os dedos sempre souberam fazer de melhor foi precisamente revelar o oculto. O que no cérebro possa ser percebido como conhecimento infuso, mágico ou sobrenatural, seja o que for que signifiquem sobrenatural, mágico e infuso, foram os dedos e os seus pequenos cérebros que lho ensinaram. Para que o cérebro da cabeça soubesse o que era a pedra, foi preciso primeiro que os dedos a tocassem, lhe sentissem a aspereza, o peso e a densidade, foi preciso que se ferissem nela. Só muito tempo depois o cérebro compreendeu que daquele pedaço de rocha se poderia fazer uma coisa a que chamaria faca e uma coisa a que chamaria ídolo.”
José Saramago, A caverna
Cada vez mais abrem-se lojas de artesanato chique nas grandes cidades. Comércio justo e ação comunitária são algumas das expressões que descrevem artefatos locais, muitas vezes turbinadas por intervenções de designers. Como tem se dado essa relação entre designers e artesãos no Brasil?
Para responder a essa pergunta, é importante entender o que é artesanato nos dias de hoje.
É a produção sobrevivente dos hippies de brinquinhos à indiana vendidos em praças ou perto de escolas e estações de metrô? São os potes de barro de Maragogipinho na Bahia, feitos para turistas? É o trabalho de refinado morador de bairro elegante que trabalha com peças esculpidas em madeira? Ou ainda é a forma de produzir vinculada essencialmente a períodos pré-capitalistas?
A palavra “artesanato” designa tudo isso e mais ainda. Às vezes confundida com o fazer manual, é atribuída àqueles que aprendem rudimentos de uma profissão “simples” como a marcenaria. Sim, programas oficiais de artesanato brasileiro consideram artesãos ex-presidiários que tiveram aulas com marceneiros ou donas de casa pobres que foram reunidas num grupo de costura e se exercitaram no uso da agulha e da linha. No Brasil, o saber artesão se