DESCARTES
O cogito cartesiano nasce no seio de um período de efervescência em que a Idade
Moderna, já tendo rompido com as questões paradigmáticas do mundo medieval, avança progressivamente no campo das ciências e coloca a verdade como um conceito a ser alcançado através do mesmo rigor metodológico do qual a matemática se utiliza.
Paulatinamente, com a publicação da tradução francesa da obra de Sexto Empírico,
Esboços do pirronismo, o ceticismo foi galgando o seu espaço no meio acadêmico. Se por um lado se exige que a filosofia assuma um caráter científico e objetivo em suas fundamentações para que possa ser tão ou mais rigorosa que o método matemático, sob outro viés temos a influência da certeza cética acerca da impossibilidade de se atingir o conhecimento absoluto ou a verdade absoluta. É neste contexto que Renée Descartes nos apresenta uma nova compreensão filosófica, que busca formular novos conceitos metafísicos sobre bases axiomáticas. Tendo por base o exposto, nosso objetivo é apresentar analiticamente as quatro primeiras meditações cartesianas.
Na primeira meditação, intitulada Das Coisas que se Podem Colocar em Dúvida, o filósofo propõe um processo de desincorporação e reincorporação de conceitos. De desincorporação na medida em que traça como objetivo primeiro se desfazer-se das antigas opiniões, fundamentadas em solos incertos e duvidosos, para poder começar tudo de novo desde os seus fundamentos e estabelecer uma constância na ciência.
Destarte, trata-se também de um processo de reincorporação no que tange ao que se seguirá nas meditações subsequentes; uma vez desfeitas as falsas opiniões, o espírito se abre para apreensão do verdadeiro conhecimento. Com o espírito livre e assegurado numa pacífica solidão, Descartes apresenta o princípio geral que permeia toda a
Primeira Meditação: o princípio da dúvida hiperbólica. Tendo como desígnio destruir todas as antigas opiniões e sabendo ser este um processo infinito se