Descartes
"Penso, logo existo": Da fundamentação da Ciência à descoberta da consciência
Por Marcos André Gleizer
Marcos André Gleizer é doutor em Filosofia pela Universidade de Paris IV - Sorbonne, França, com pós-doutorado na Universidade de Princeton, Estados Unidos. Atualmente é professor adjunto VI do Departamento de Filosofia da UERJ, pesquisador do CNPq e professor colaborador da Casa do Saber Rio. É autor dos livros Verdade e certeza em Espinosa (Editora L&PM, 1999) e Espinosa e a afetividade humana (Jorge Zahar Editora, 2005)
Poucas frases formuladas ao longo da história da Filosofia alcançaram a notoriedade do "Penso, logo existo". Enunciada por René Descartes (1596-1650) pela primeira vez em seu Discurso do método, publicado em 1637, essa frase curta e aparentemente simples inaugura uma das revoluções intelectuais mais radicais e importantes da história do pensamento ocidental. Com ela, um novo paradigma - a "Filosofia da consciência" ou "Filosofia da subjetividade", como este paradigma veio a ser denominado posteriormente - foi instaurado, introduzindo no cenário filosófico um conjunto de conceitos, temas e problemas que determinaram em grande parte os destinos da Filosofia moderna e contemporânea.
Mas o que significa exatamente esta frase? Qual a função que ela desempenha no projeto filosófico de Descartes? De onde deriva a sua importância para o pensamento subsequente? Para responder a estas questões, é preciso relembrar inicialmente o objetivo deste projeto filosófico e o problema que ele procurou equacionar e solucionar. Logo no primeiro parágrafo de sua obra filosófica mais importante, as Meditações metafísicas (1641), Descartes enuncia, com toda a clareza e elegância que caracterizam seu estilo, o objetivo principal de seu projeto: "Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão malassegurados, não podia ser