Democracia - opinião
Eduardo Hoornaert
Padre casado, belga, com mais de 5O anos de Brasil, historiador e teólogo, mais de 20 livros publicados. Mora em Salvador. Dedica-se agora ao estudo das origens do cristianismo
No momento em que escrevo, último dia do mês de agosto, as máquinas de produzir prefeitos e vereadores pelo Brasil afora, estão funcionando a todo vapor. Vejo propagandas eleitorais sempre mais ‘terceirizadas’ e industrialmente produzidas. A tendência vai se acentuando com o correr dos anos. Penso que chegará o tempo em que o candidato não precisará mais nem sair de casa nem mesmo abrir a boca. Bastará fazer aparecer sua imagem, devidamente retocada, em todas as esquinas da cidade, repetir até a exaustão sua música e fazer com que o número de seu partido entre na mente de um número máximo de pessoas. Então o candidato em questão não terá mais nada a fazer a não ser pagar o preço que a empresa de propaganda lhe cobra.
Isso mostra que o problema da democracia é mais complicado do que se costuma pensar. Pode-se perguntar se as pessoas desejam realmente a democracia, se elas são efetivamente ‘democráticas’ e sintonizam com os políticos que afirmam, desde o século XVIII, que a democracia é o melhor sistema de governo. Inúmeros indícios na vida de cada dia mostram que a democracia não parece constituir uma referência para a grande maioria das pessoas. A impressão é que as pessoas não se sentem mal em ser manipuladas por grupos pequenos, formados por pessoas ricas ou poderosas. Hoje os manipuladores da opinião pública se sentem tão à vontade que não temem mais em mostrar suas caras. Os super-ricos e superpoderosos aparecem nas revistas, nos jornais, na TV e nos grandes eventos. A impressão geral é que as pessoas gostam dessas exibições, ou seja, gostam de ser enganadas. Aparecem imagens sempre mais fantásticas de formas de poder autoritário e essas imagens se repetem de mil maneiras na TV, nos livros, nos mega-eventos religiosos e nas igrejas em geral. Cada