Cultura: um conceito antropológico
Darwin, homem moral
No ano em que se comemorou o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de sua obra mais famosa — A origem das espécies —, surgiu uma nova faceta do personagem conhecido como o pai da evolução. Em A causa sagrada de Darwin (Editora Record, 668p., 2009), Adrian Desmond e James Moore apresentam um homem movido por sensibilidade, por uma arraigada ética moral e pelo horror à escravidão. O choque de ouvir os gritos, em Pernambuco, de um escravo sendo torturado teria sido o principal impulso para que o jovem britânico desenvolvesse e publicasse a argumentação científica que organiza a vida numa árvore genealógica, e assim defende a igualdade entre todos os seres vivos, humanos inclusive.
O novo livro é a resposta a uma pergunta que, segundo James Moore, tinha ficado pendente na extensa biografia que a dupla escreveu e que foi publicada no Brasil em 1995: por que Darwin teria perseguido uma causa tão perigosa, a da ancestralidade comum entre todos os seres vivos, que corria o risco de arruinar sua vida pessoal e sua reputação profissional?
Era, argumentam, uma causa profundamente importante para Darwin, que permeou toda a sua vida. Ele foi educado por uma família que defendia os direitos humanos e estudou na Universidade de Cambridge, onde na mesma época estudavam e lecionavam antiescravagistas notórios. Ele viveu numa Inglaterra que, na primeira metade do século XIX, fervilhava em protestos contra a escravidão. Moore percorreu registros de petições antiescravagistas — dezenas de milhares de nomes exercitando a democracia incipiente —, além de jornais da época, e concluiu que os protestos contra a escravidão foram um dos maiores movimentos morais daquele país, um experimento em democracia antes que ela existisse como é hoje.
Darwin conheceu negros bem-sucedidos na Inglaterra, como um ator de sucesso que fazia vários papéis no teatro da cidade onde ele vivia, conviveu com