Cultura Religiosa - PUC MINAS
CAPÍTULO I
Constatações da experiência humana e estranhamento diante do mundo
O sagrado não se encontra fora da experiência humana, mas está aí no meio de nós, no alimento, no sábado (ou domingo), em nossos relacionamentos. Por isso, o estudo que faremos, no fascinante campo da esfera religiosa, partirá da constatação da situação humana. Escolhemos dois modos diferentes de abordagem: a partir dos trabalhos científicos mais recentes, veremos o que pode ser dito sobre o ser humano, quanto sua origem e evolução; depois, faremos a leitura do mito civilizatório de Prometeu. No capítulo II, faremos, ainda, uma abordagem de modo sistemático da noção de cultura.
A nova cosmologia nos habituou a considerar cada realidade singular dentro do todo que vem sendo urdido já há 15 bilhões de anos e, em especial, a vida gerada há 3,8 bilhões de anos. As realidades singulares – elementos físico-químicos, microrganismos, rochas, plantas, animais e seres humanos – não se justapõem umas às outras, mas se entrelaçam com as redes de inter-retroconexões inclusivas, constituindo uma totalidade orgânica única, complexa e diversa.
Depois da decifração do código genético por Crick e colaboradores em 1950, sabemos hoje, comprovadamente, que vigora a unidade da cadeia da vida: algas, cogumelos, árvores, bactérias, fungos, peixes, animais e humanos, somos todos irmãos e irmãs, porque descendemos de uma única forma originária de vida. A recente decodificação do genoma humano, em fevereiro de 2000, mostrou o profundo parentesco existente entre todos os organismos vivos, mesmo entre aqueles que, numa compreensão superficial e ideológica, parecem mais humildes, como os vermes, as moscas, os camundongos e as ervas daninhas. Temos, por exemplo, 2.758 genes iguais aos da mosca e 2.031 idênticos aos do verme.
Mosca, verme, ser humano, possuímos uma irmandade fundamental baseada em 1.523 genes iguais. Esse dado se explica pelo fato de que todos, sem