Cultura brasileira: temas e situações (alfredo bosi)
(Alfredo Bosi)
Plural, mas não caótico
Não existe uma cultura brasileira homogênea. Nossa cultura tem caráter pluralista, que é resultado de um processo de múltiplas interações e oposições no tempo e no espaço.
O tempo cultural acelerado de nossa cultura revela-nos uma perda de memoria social generalizada, causada pela urgência de substituição – o sempre novo. O tempo da cultura popular é cíclico, o que fundamenta o retorno de situações e atos que a memória grupal reforça, atribuindo-lhes valor. Sempre que uma inovação penetra a cultura popular, ela vem de algum modo traduzido e transposto para velhos padrões de percepção e sentimento já interiorizados e tornados como que uma segunda natureza.
O capitalismo se apropria de manifestações culturais, ocultando seu teor original de enraizamento – tempo é dinheiro. O que segundo teorias marxistas aguçaria os termos de contradição, estando de um lado o valor de troca da mercadoria cultural, feita para venda e para o consumo; e de outro o valor de uso, resultado da expressão das comunidades populares. Mostrando que o imaginário do povo é capaz de incorporar signos da cultura de massa, e vice-versa.
A cultura “superior” guarda ou procura guardar, alguma forma de liberdade interior sem qual não exerceria nem a critica nem a criação. Se reconhecermos a liberdade como precondição necessária de toda verdadeira criação artística, não corremos risco de sujeitar o ritmo desta a ciclos de eterno retorno. É a liberdade formal que permite ao artista manter o equilíbrio entre: o Ciclo e a Série; os dois principais modelos de formação simbólica. O que singulariza a cultura “superior” é sua forma de avaliar a si mesma e em ultima instancia, é sua autoconsciência; superando os seus conteúdos já datados. O seu ritmo pressupõe o movimento da consciência histórica.
“Aprender o que somos, o que nos estamos tornando agora e o que podemos fazer, mediante um conhecimento