Crítica de Arte e Modernidade na teoria de Baudelaire
Segundo o filósofo Vladimir Safatle, para Hegel a modernidade se caracterizaria por ser responsável pela produção de uma performatividade cujo signo fundamental seria a “indeterminação” (SAFATLE, 2008). Isto é, o homem da modernidade seria resultado de práticas de desterritorialização, cujo resultado, invariavelmente, seria certo sentimento de não pertencimento. O referido sentimento, este “certo sentimento de indeterminação”, responde pelas qualidades distintivas da subjetividade moderna cujo traço e eixo fundante, ontológico e imanente, é a certeza de que sua humanidade é uma tarefa em aberto – não se trata apenas de o homem ser um porvir, mas o próprio porvir, seu processamento, é o que qualifica sua humanidade (e não seu resultado). De certo modo, este homem é profundamente marcado por esta experiência, própria da modernidade, uma vez que com todo evento traumático abrem-se duas alternativas: a romantização e a idealização (ingênua) de um passado no qual tal evento e seus resultados seriam incomensuráveis, na medida em que nossa vida dar-se-ia sob coordenadas postas por certa transparência e coerência com a realidade como tal e nossa relação com ela, em que, portanto, o trauma em si, como instante de morte, momento de negatividade, seria um impossível; ou então, por outro lado, tomando o evento traumático como um dado do mundo, incorrer nas possibilidades abertas por ele, e jamais revogáveis, em que o mundo, a realidade, a vida como tal seja encarada em sua duplicidade dinâmica como expressão da própria ambivalência que subjaz no próprio sujeito.
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[...] A principal característica do pensamento histórico propriamente dito não é o ‘mobilismo’ (ideia principal da fluidificação ou relativização histórica de todas as formas de vida), mas o pleno endosso de certa impossibilidade (...)” (ZIZEK, 2013, p.33).
Ou seja, o sujeito pós-traumático aqui, por assim dizer, o homem parido pela modernidade, salvo de modo