Analises da obra de Baudelaire
A mudança de perspectiva frente ao fazer poético, que notamos na Modernidade baudelairiana está relacionada, como já mencionado, com a relativização da questão do belo. Até o século
XVIII, a natureza era a fonte do bom, do belo e do verdadeiro. O que encontramos em Baudelaire é uma reação frente a esse estatuto universal fundamentado na natureza, vista pelo poeta francês como algo abominável. Dentre os seres naturais, o mais perverso para Baudelaire é a mulher. Para combater o elemento natural, o autor de As flores do mal faz uso do artifício, elemento que suplantará o aspecto natural. O símbolo maior desse artifício é visto na figura do dândi. De acordo com Ivan Junqueira:
Ao reagir (...) à ênfase que puseram algumas correntes do século XVIII sobre o papel da natureza enquanto fonte de todo o bem e de todo o belo,
Baudelaire deixa muito clara sua posição: tudo o que é natural é abominável, incluindo-se aí a mulher, que, por ser natural, ―cést-à-dire abominable‖ (1985:
55).
Para o crítico, a figura do dândi é a característica mais arraigada à função da máscara na poesia baudelairiana, um artifício que possibilita a passagem, em Baudelaire, da pessoa à persona. Cabe salientar que o termopersona, cuja origem etimológica significa máscara e remete àquelas máscaras fixas usadas nas tragédias gregas, também está presente na teoria psicanalítica de Jung e refere-se à personalidade que o indivíduo apresenta aos outros como sendo a real, mas, que, no entanto, é apenas uma variante daquela, podendo ser, às vezes, muito distinta da sua verdadeira personalidade. De acordo com Ivan Junqueira (1985), o dandismo está tanto na raiz da fundamentação estética de Baudelaire como na origem e na justificação da conduta humana e social do poeta. Essa espécie de comportamento de dândi, indivíduo que se veste com elegância e requinte, diz respeito ao estilo literário ou artístico do fin-desiècle XIX,