Crise da Razão

904 palavras 4 páginas
Se considerarmos, na história do pensamento anterior ao século 19, uma possível hierarquia de certas faculdades humanas, eis como esta poderia, a grosso modo, se apresentar: em ordem decrescente de importância e de abrangência, tal ordenação seria encimada pela fé, enquanto referência de caráter genérico à realidade transcendente, a tudo aquilo que está para além da dimensão do aqui e agora e que nos remete ao que nos ultrapassa1. Abaixo dela e por ela determinada, viria a razão, mesmo depois do alardeado nascimento da Filosofia, que nunca se livrou de fato de seus componentes míticos. subordinada à razão, a vontade não deveria jamais ultrapassar os limites daquela, como Descartes propõe na descrição que faz do mecanismo do erro em sua quarta meditação metafísica. Abaixo de tudo isso, os sentidos.

Essa hierarquia, que por vezes se mostra pertinente para reflexões de natureza epistemológica, será útil nesse ensaio para abordar a estrutura psíquica e ética do sujeito.

A partir do século 19, mais especificamente com Nietzsche, observa-se uma reviravolta na estrutura acima descrita. Agora, no topo de tudo, os sentidos, o corpo, primeiro na formulação moral e na hierarquia dos valores, segundo Nietzsche, que afirma que sem o corpo não há alma nem razão. A moral é, para ele, afirmadora da vida, do corpo e dos instintos, tidos como a "felicidade do corpo". corpo e instintos que eram tidos como incapazes de determinar valores morais positivos na ética tradicional, eram associados ao mundano, ao diabólico e considerados princípio de todo mal. Abaixo dos sentidos e por eles determinados, a vontade, que em Schopenhauer chega a identificar-se, contra Kant e Hegel, com a coisa em si que se apresenta de modo irracional. Em Nietzsche, a vontade de poder determina a moral, subordinando-lhe a razão e todos os valores absolutos e universais. A razão abalada, eclipsada, em plena crise, abaixo da vontade e dos sentidos, está também na subtração existencialista de atribuição de

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