Crianças abandonas
As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada “crise de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.
Enquanto o mundo era definido em termos de rigidez e firmeza, o homem era também fixo, unificado e estável. Sua identidade e subjetividade dependiam de um desenvolvimento pré-estabelecido, em constante interação com o mundo social, e ao chegar o sujeito a seu apogeu, considerava-se que era algo pronto e acabado. Irremediavelmente prontas, a constituição do sujeito e sua subjetividade somente eram alteradas e modificadas em casos considerados patológicos.
Pois bem, com as transformações a respeito da constituição do mundo e da sociedade – transformações essas que partiram da física e da mecânica quântica de Einstein, Planck e Heisenberg, no início do século passado – a identidade e subjetividade humanas deixaram seus lugares no podium da racionalidade estável para se situar na atual teia de significações culturais mundiais e até mesmo universais.
As transformações ocorridas em nível mundial culminam por alterar a estrutura fixa da identidade, que passa a ser considerada móbil e definida historicamente. Assim, nos dizeres de Hall (2001, p. 13): “O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente”. O que significa que nossa identidade e subjetividade são fluidas e constantemente modificadas em função das novas significações culturais que surgem todos os dias: “[...] à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade