Cracolândia
Quem mora ou trabalha na região cortada pela linha férrea diz que quando escurece o problema toma proporções mais perigosas. Das janelas de prédios dos arredores, moradores podem ver o pisca-pisca dos cachimbos de crack sendo acesos. Além do risco de acidentes, a presença dos viciados na linha do trem prejudica o sono da população ao redor. A reportagem presenciou vários usuários de crack pulando o muro da linha férrea em uma passarela que liga as Ruas Capistrano de Abreu e Luigi Greco. Eles se concentram nos matagais próximos dos trilhos para fumar. Usuários de crack confirmam que, no esconderijo, ficam livres das chamadas "procissões do crack", quando policiais afugentam a multidão de viciados pelas ruas da região central.
“Meus pais sempre foram muito rígidos. A primeira vez em que me autorizaram a viajar sozinho, fui para Maresias e experimentei maconha. Dois anos depois, cheirei cocaína. Quando a gente se mudou do Butantã para a Granja Viana, pedi ao pessoal da minha classe para não deixar de me chamar quando fossem fumar um. O problema é que logo na primeira vez me falaram que a droga era outra, o crack. Fomos até a favela, em Carapicuíba, compramos, e eu experimentei. Em menos de dez segundos, meu corpo relaxou e comecei a suar frio. Foi uma enorme e rápida sensação de prazer. Daí você logo quer mais. No fim de semana seguinte, estávamos na favela de novo. Na terceira vez, já ia para lá sozinho. Passei um ano inteiro usando quase todos os dias. Perdi 12 quilos e fui demitido de um restaurante bacana no Itaim, onde trabalhava como chef (P.F. é formado em gastronomia pela FMU). Chegou um dia em que não queria mais usar. Mas não