Cooperar
Chegamos a este capítulo com o dilema “faz o que quiseres” como lema fundamental da ética. Devemos levantar as questões a nós próprios e não perguntar a ninguém o que devemos fazer.
Podemos reparar que existe uma contradição, quando dizemos “faz o que quiseres” parece que estamos a dar uma ordem (faz isso e não outra coisa) ainda que se trate de uma ordem que manda agir livremente. Se a cumprimos, desobedecemos lhe, se lhe desobedecemos estamos a cumpri-la. Como Jean-Paul Sartre dizia “estamos condenados á liberdade” e perante esta condenação, não existe indulto que nos valha.
O “faz o que quiseres” é um forma de dizer para levar a serio o problema da nossa liberdade pois nos possuímos um responsabilidade criadora de escolher o nosso caminho. Quer queremos quer não, somos livres, quer queremos quer não, temos que querer. Não podemos confundir “faz o que quiseres”, uma coisa é fazer “o que quiseres” e outra muito diferente é fazer “a primeira coisa que nos apeteça”.
No primeiro dos livros da Bíblia conta-se a história onde o filho mais velho (Esaú) troca a primogenitura com o seu irmão por um guisado de lentilhas naquele momento. Recomendamos “faz o que quiseres”, mas seriam as lentilhas que lhe apetecia naquele momento? É logico pensar que o que Esaú queria no fundo naquele momento era a primogenitura. É claro que também lhe apetecia o guisado mas se ele pensasse um pouco chegaria á conclusão que esse desejo poderia esperar um pouco. O que determina Esaú a escolher o guisado presente e renunciar a herança futura é a sombra da morte. Ou seja, pelo medo da morte, Esaú decide viver como se já estivesse morto e tudo fosse a mesma coisa. A vida é feita de tempo.
Se dizem para fazermos o que queremos o que devemos realmente fazer é pensar com tempo e afundo pois muitas das vezes apetece-nos muitas coisas e amiúde contraditórias (como andar de mota e não querer partir a cabeça). Se tivéssemos de resumir isto tudo provavelmente diríamos que queríamos