Contos
Naturalmente, o trabalho de meu pai – fabricação de óleo de cão – era menos impopular, embora os proprietários dos cães desaparecidos o olhassem às vezes com desconfiança, o que, em certa medida, se refletia em mim. Como sócios, à escondida, tinha meu pai os médicos da cidade, que quase nunca aviavam uma receita sem que nela constasse ao que eles orgulhosamente designavam “Ol. can.”, o remédio mais valioso que já se houvera descoberto. Mas a maioria das pessoas não está disposta a fazer sacrifícios pessoais pelos aflitos, e era evidente que muitos dos cachorros mais gordos da cidade eram proibidos de brincar comigo. Isto feriu a minha sensibilidade juvenil e, certa feita, dirigiram-se a mim para fazer-me de pirata.
Olhando para trás, para aqueles dias, não posso, às vezes, evitar o arrependimento, pois, levando indiretamente os meus queridos pais à morte, fui o autor dos infortúnios que profundamente afetaram o meu futuro.
Certa noite, ao passar à frente da fábrica de meu pai, quando vinha do gabinete de minha mãe, trazendo um exposto, vi um guarda que parecia observar atentamente os meus movimentos. Embora bastante jovem, eu já aprendera que os guardas só acorriam aos fatos mais