Contos de sangue
A noite caíra rápido demais. Meu cérebro, perfeito, era incapaz de diferenciar a noite do dia, exceto pela maldita luz do Sol que entrava pela minha janela pela manhã. Enfim todos os dias foram os mesmos, sob minhas persianas roxas, desde o primeiro dia em que a vi, há nove anos atrás, quando se mudou para o apartamento abaixo do meu.
Todos os dias, durante esses nove anos, eu vi seu rosto amadurecer, seu cabelo mudar de tamanho, seu corpo esticar e tomar proporções de uma mulher, com cintura fina, quadris ligeiramente largos e belos seios. Um corpo realmente admirável, tendo em conta sua pele e descendência branca. Pouco me importava, era verdade. Era ela, era perfeita.
Por todos esses anos esperando e finalmente a tinha, novamente, perfeita aos meus olhos. Como um dia fora.
Em seu quarto, ela ajeitava o vestido na cintura. Estava perfeito. Passou o batom vermelho, pela quinta vez, para se certifica que seus lábios estavam cobertos pela tinta.
Vermelho, embora fosse uma cor vulgar, para mim, que sou tão velho, é uma cor familiar. Não pude inibir o sorriso que se alargou em meu rosto ao vê- la daquela forma. A minha querida garotinha havia crescido.
Enquanto Anne apagava a luz do quarto e ia em direção da sala para se despedir de sua mãe, me observei pelo espelho mais uma vez. O terno preto bem alinhado e um pouco justo, como ela gostava. De camisa, também preta e um lenço vermelho no bolso do paletó. O perfume era o que fazia ela fechar os olhos de prazer, ao sentir. Meu cabelo, recém cortado, barba feita. Meus olhos, verdes, brilhavam no espelho. A porta de seu apartamento estava sendo aberta, era hora de sair.
Corri os oito lances de escada e saí para a rua ao lado do prédio, para buscar o carro. Era o modelo que ela gostava, e era preto. Tomei a rua e dirigi até chegar a boate, enquanto Anne pegava um táxi e ia para a boate.
Há uma semana havia recebido o convite, por correio, da maior festa da cidade. É claro que eu havia