A tradição nas modernas literaturas caboverdiana e moçambicana: uma análise de Sangue da avó, manchando a alcatifa e Filho és, pai serás
3481 palavras
14 páginas
XII Congresso Internacional da ABRALICCentro, Centros – Ética, Estética
18 a 22 de julho de 2011
UFPR – Curitiba, Brasil
A tradição nas modernas literaturas caboverdiana e moçambicana: uma análise de Sangue da avó, manchando a alcatifa e Filho és, pai serás
Doutoranda Elisangela Aparecida da Rocha (USP/FAPESP)
Resumo:
O objetivo do presente artigo é analisar de que modo as noções de tradição e modernidade dialogam no contexto da moderna literatura africana, tendo como objetos de análise os contos “Sangue a avó manchando a alcatifa” do moçambicano Mia Coutro, e “Filho és, pai serás” da caboverdiana Dina Salústio.
O ponto principal por nós destacado é questionar a dualidade que perpassa esses dois conceitos, no intuito de investigar se o dualismo que os coloca em oposição é tão somente resultado de uma idéia simplificadora que se faz de ambos. Podemos dizer que, a priori, a oposição entre os valores modernos e tradicionais, presente nas duas narrativas, parte da polarização entre pares básicos, como campo/cidade, tecnologia/retorno a cultura popular, mais velhos/mais novos etc, caminhando para a desconstrução destes.
Palavras-Chave: Tradição, modernidade, literatura africana.
1 Introdução
Já consagrada, uma linha de interpretação sobre a modernidade busca na oposição entre tradição e modernidade o caráter fundador-constitutivo desta. No entanto, aponta-nos Sueli Saraiva da Silva (2008), os conceitos de tradicional e moderno são, muitas vezes, erroneamente pautados numa leitura dualista na qual o moderno é relacionado à Europa e o tradicional a civilizações e povos ditos primitivos, isto é, tudo que é não-europeu-ocidental. Uma abordagem mais apropriada – menos excludente e simplificadora – segundo Saraiva, deveria analisar como as esferas do tradicional e do moderno estão materializadas no contexto específico de cada sociedade.
No que se refere à África, afirma, “poderíamos supor que uma 'modernidade particular' se expressaria numa