conto
Bernardo Müller
Leitura e produção de texto 2 – Carlos Ayres
20 de Novembro de 2014
Quinze minutos e dez metros
Quinze minutos e dez metros. Era o tempo e distância que eu tinha para conseguir conquistar a Gabriela, a menina nova da oitava série. Havia duas semanas que ela tinha sido transferida de uma escola do interior da cidade para a nossa escola, chamando a atenção imediata do colégio todo.
Parecia uma índia, a pele castanha, olhos verdes, cabelo escuro e liso. Uma franja cortada bem rente às sobrancelhas negras que davam ainda mais destaque aos olhos verdes. Era uma divergência de claro e escuro que deixava intrigada todas as turmas de todas as séries. Quando a Gabriela chegou no colégio, o sossego acabou. Inclusive o meu.
Imagine só, duas semanas de ansiedade. Eu, no ápice dos meus treze anos, ainda não tinha analisado com tamanho afinco os detalhes da minha própria natureza. Um metro e meio, magrela, nariz com buracos saltados para os lados e cheio de sardas. Não haveria menina no mundo que poderia me notar. Pelo menos era isso que eu achava.
Em mais de uma década de existência, a única figura de alma feminina a me cortejar foi a Sindy, cadela que a gente tinha e que adorava me lamber quando eu chegava suado do futebol. Ela morreu — não por conta das lambidas dos meus suores, mas de velha mesmo — e, desde então, a vida tocou sem que eu ou elas tivéssemos qualquer contato mais íntimo.
Eu gostava de jogar bola e Super Mario, ler histórias em quadrinhos. Mas o impacto foi forte quando vi passar pela entrada da escola, logo cedinho, aquela menina de calça legue e uma blusinha. Naquele momento e em todos os outros que se seguiram até então, eu daria a minha bola e venderia o meu vídeo game pelo preço mais acessível só para ter dois minutos de coragem para explicar para ela, que o destino era indolente e que, agora, os meus designíos e toda a minha ventura estavam apontados para ela. Mesmo sem fazer a