Conto

Bem, nunca fui de ter medo quando era criança. Medo do escuro, armário, corredor, ou o que tivesse embaixo da cama. Bicho papão, bruxa do espelho, loira do banheiro, mulher de branco... essas coisas. Mas, quando eu tinha uns oito anos algo horrível me aconteceu, e me fez ser a criança mais assustada que eu conheço, algo que eu não desejo pra vida de ninguém.
Na época eu morava com meus pais na cidade de São Paulo, mas depois que meu pai faleceu, nós se mudamos para um condomínio no Rio de Janeiro, em um bairro na área industrial. Era um condomínio de um jeito que eu nunca tinha visto, com várias casas iguais, uma do lado da outra. O condomínio ainda estava sendo construído, só tinha uns cinco moradores, e era bastante sinistro, bem vazio, deixava um ar de medo. Nesse ano o condomínio estava finalizando sua construção, o que explicava o vazio que havia lá. A morte de meu pai deixava a Mãe inconsolável, e eu sem saber como ajuda-la, saía de casa e perambulava pelo condomínio. Fiz amizade com o porteiro, os moradores e inclusive com os trabalhadores da obra. Era bem legal, mas não havia crianças com quem brincar, então quando o condomínio se tornava entediante, voltava para casa para jogar meu Nintendo 64 que era meu vício.
Passado duas semanas após a mudança, fui matriculado numa escola da região, e a Mãe arrumou um emprego em uma fábrica não muito longe, então comecei a passar horas sozinho em casa, pois estava de férias. Para uma criança de oito anos, não era nada saudável ficar absolutamente o dia inteiro olhando para uma TV, com um controle na mão. Sem luz do sol, e sem ouvir a voz de alguém, quase o dia todo, lembro de começar a ficar paranoico. Comecei a falar sozinho, e quando me tocava, tinha a certeza de que ão estava nada bem. Nunca quis contar pra Mãe, com medo de que ela achasse que o lugar não estivesse fazendo bem, e tivesse que se mudar novamente. Apesar disso ser a verdade, eu não queria atrapalhar sua vida.
Um certo dia, me peguei meio depressivo, e