Conto
Buscou então o celular, que ficava ao lado e servia de despertador. Era imprescindível avisar no trabalho. Mas o aparelho, misteriosamente, estava desligado. Tentou ligá-lo, com insistência, e foi inútil. O mesmo permanecia apagado, completamente inerte. Correu então ao telefone fixo, que estava mudo. Atirou o telefone contra a parede e, durante alguns segundos, sentiu uma vontade imensa de gritar...
Mas depois se conteve. Afinal de contas, em dezessete anos, nunca atrasara no trabalho. Havia faltado apenas uma vez, uma semana inteira, por conta de uma conjuntivite. Além, é claro, das férias... Respirou fundo, e procurou se acalmar. Caminhou lentamente à janela, e, ao abrir as cortinas, notou que algo realmente estranho estava acontecendo. Os carros todos parados, bem no meio da rua; um bando de gente caminhando sem direção?
Tal cena, vista do décimo terceiro andar, era enigmática: o engarrafamento misturava pessoas e automóveis. Mas o fato é que enquanto as primeiras agitavam-se enlouquecidas, os segundos, pareciam pedras de plástico, ferro e alumínio, gigantes e coloridas. Resolveu calçar os chinelos e descer do jeito mesmo que se encontrava – de pijama. Mas o elevador não respondia. Sem escolha, teve de apelar para as escadas. O problema foi descer no escuro, tomando o máximo de cuidado para não perder a conta dos andares. Por fim chegou até o hall de entrada e logo deu de encontro com outros três moradores do prédio. Foi quando teve a notícia de que toda sorte de aparelho, seja mecânico, elétrico, eletrônico, eletromagnético, ou similares, misteriosamente, deixou de funcionar. Entao como não havia jeito de ir para o trabalho de nem avisar o chefe que iria se atrasar