Conto
- Infelicidades como a de noite passada tendem a se repetir de maneira absurda! A população deve ficar em alerta e evitar essas situações. Na minha juventude não era assim, moças de respeito não sairiam sozinhas noite a fora, mas nem para ir na vizinha fofocar. É claro que não estou culpando a moça, sem dúvidas a culpa é daquele infeliz...
Passaram uns 20 minutos, até conseguir-se discernir e separar a notícia concreta daquele enrosco de opiniões conservadoras. Da notícia em si, entendi que foi encontrado o corpo de uma moça de 23 anos com marcas de abuso sexual, ela havia se atirado de um carro em movimento batendo o crânio no asfalto, morte miojo, não sofreu por mais de 3 minutos.
Desliguei o rádio como se calasse a boca de Lauro Vargas, mais aliviada agora por saber o que de fato me fez sentir frio. Já eram 8 horas e 40 minutos e as nuvens ainda estavam em duvida se ficavam pelo céu ou se zarpariam. Liguei o computador, pesquisei mais sobre o caso, anotei num caderninho o nome da moça e alguns preciosos dados. Relógio bipou 10 horas, vesti um casaco, tranquei a porta, desci as escadas. Me deparei novamente com o céu depressivo, acendi um cigarro, fui caminhando com passos firmes até o ponto de ônibus. Vendi meu carro para pagar a faculdade, tranquei a faculdade para acertar meus ideais. Quando iniciei os estudos em ciências jurídicas, queria ter o poder da lei para faze-la eficaz, aquele sonho heroico de mudar um tantinho a sociedade. Mas ser advogada