Conto: Moleque
E ele, que não estava acostumado com tantos mimos, estava ficando “de casa”. Mamãe o levara para sua família havia dois anos. Deixou as ruas e achou ninho em uma família. Dentre todos da casa, papai, Alice e mamãe era ela, a mamãe que o mimava com tantos paparicos. E ele gostava. _Mamãe perdão. Perdi a hora. Ainda estou na rua. Estaria a mamãe dormindo? Duvido. Certamente seu coração estava apertado e era sua culpa.
Culpa de um moleque sem juízo. Corre, corre. Talvez o portão ainda esteja aberto. Talvez aquele cadeado não tivesse ainda selado seu destino e não estivesse passado por dentro da argola enferrujada do portão e ah... estaria a salvo...
Entraria pé ante pé. Mamãe nem saberia a que horas havia voltado.
Finalmente chega à esquina de casa e diminui o ritmo da corrida. Primeiro, porque já estava de língua de fora e depois, porque estava com medo. Medo de olhar a argola do portão e ver aquele maldito cadeado selando seu destino. Lembrou em meio à agonia que aquela noite, mamãe recomendara: _Olha a hora... Só meia horinha... Cuidado com a rua... não fique no sereno. E me beijara. Ah! Que beijo doce. Acariciara sua cabeça e tchumm. abrira o portão. -Liberdade...! Que noite! Saiu ele com a rapidez de um tiro, rua afora. Aquela noite, particularmente estava