Continente Africano: uma ferida ocidental
Para visitarmos o continente africano, é preciso, antes de mais nada, aproximarmo-nos da complexidade que envolve conceitos como capitalismo e colonização, cultura e etnias, identidades e diferenças, positivismo, multiculturalismo, interdisciplinaridade e tantos outros. Só através dessa conceituação teórica torna-se possível delinear o contexto sócio-político, econômico e cultural capaz de elucidar o trajeto e o projeto da tão dramática e conturbada história da África. Selecionamos, para iniciar os nossos estudos, o texto “O olhar imperial e a invenção da África”, primeiro capítulo do livro África na sala de aula – visita à história contemporânea, da cientista política, pesquisadora e professora da PUC de São Paulo, Doutora Leila Leite Hernandez, que comentaremos a partir de agora. Dividido em três segmentos – “A África inventada”, “Repensando o continente africano” e “África: um continente em movimento”, o texto de Hernandez provoca a revisão dos conceitos preconceituosos incutidos pela visão eurocêntrica a respeito do continente africano. Para desconstruí-los, a autora se vale de seguríssima argumentação, fundamentada numa ampla bibliografia, rigorosamente selecionada, no sentido de manter uma coerência ideológica em todo o percurso textual. Questionando a perspectiva ocidental que nos apresenta a visão deturpada de uma África branca e desenvolvida (as regiões setentrionais e meridionais do continente) e uma África Negra selvagem, sem povo nem história (a região subsaariana), a autora desenvolve uma profunda revisão crítica desses conceitos, conseguindo comprovar a presença de um continente multifacetado, plurigeográfico, pluriétnico e multicultural, com