Conta mais uma vez
Júlio Quirino
O avanço da tecnologia e o surgimento do hipertexto reestruturou o modo linear de produzir e ler livros. Ao aproximar tradição, tecnologia e criatividade, Angela Lago, com sua Interminável chapeuzinho vermelho, proporciona ao leitor – adulto ou mirim - novas experiências de leitura.
Tendo como palavra de ordem a interação e oferecendo uma navegabilidade dinâmica, lúdica e atraente, a cyber-obra da escritora mineira revela-se como uma ótima estratégia para garantir ao leitor um espaço participativo na narrativa. Diferentemente do livro impresso, a Interminável chapeuzinho vermelho viaja, pela estrada a fora, por muitos caminhos e desfechos, ao bel prazer do leitor.
A personagem, a cada clique, surge como uma atriz representando um papel em um tablado. Trata-se de uma paródia criativa e bem humorada do clássico de Charles Perrault. Em uma das cenas, por exemplo, a vovó ao invés de ser devorada pelo lobo, cozinha-o. Além disso, há várias passagens em que as personagens recorrem ao livro para se certificarem de que a atuação está correta. A movimentação inusitada das personagens, embalada pela canção La vie em rose [a vida em cor de rosa] confere não só um caráter teatral e irônico, como também reforça o tom paródico da obra.
Ao contrapor-se a história original, apresentada apenas sob o ponto de vista do narrador, a animação abre ao leitor um leque de possibilidades. Excelente para explorar a noção de causalidade, pois a cada comando do mouse o enredo da história é redimensionado.
Indicada para todas as idades e essencial às crianças, a releitura é um convite à reflexão sobre o processo de criação, o uso da tecnologia e os diferentes modo de ler exigido pela sociedade nos dias de hoje.
Sem dúvida, é uma ferramenta essencial para um trabalho didático incentivador da livre criação.