Consulta
Deep Blue x Kasparov:
Lenara Verle
Mestranda – Programa de Pós-grad. da FAMECOS/PU-
O FATO DO COMPUTADOR especializado em xadrez da IBM, Deep Blue, ter ganho do campeão mundial humano, Garry Kasparov, em maio de 1997 (em uma série de 5 partidas, Kasparov ganhou uma, empatou duas e perdeu mais duas) ensejou o aparecimento de vários comentários sobre o tema
“homem versus máquina”.
Um ano antes Kasparov havia jogado com uma versão mais antiga do Deep Blue e ganhado a série de cinco partidas (apesar de perder a primeira partida – sua primeira derrota para um computador). O tom dos comentários então era de alívio generalizado: ainda éramos “superiores” à máquina
–
pelo menos no xadrez.
Agora isso mudou. Kasparov, e junto com ele nossa espécie, foi derrotado por uma máquina. Em um artigo escrito logo após a vitória de Kasparov em 1996, intitulado “Deep Blue ou a melancolia do computador”, Jean Baudrillard discorre sobre o assunto, aventando (de uma maneira que poderíamos chamar de profética) a possibilidade próxima de uma vitória do computador.
Dentre outras coisas, Baudrillard fala sobre nossos desejos e medos ao criar um computador que possa derrotar a nós mesmos. Ao mesmo tempo em que nos equiparamos a Deus – nosso criador – também criamos um ser superior a nós, e assim nos tornamos obsoletos.
“ O homem, ao mesmo tempo que sonha com todas as suas forças em inventar uma máquina mais forte do que ele mesmo, não pode admitir a possibilidadede não ser o mestre de suas criaturas. Tanto quanto Deus.
Poderia Deus ter sonhado em criar o homem superior ao criador e em enfrentá-lo num combate decisivo? É o que, contudo, fazemos com nossas criaturas cibernéticas, às quais oferecemos a oportunidade de nos derrotar.”
Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 9 • dezembro 1998 • semestral
63
(Baudrillard 1997, p. 134)
Mas afinal, quem – ou melhor, o que – é essa máquina que nos “derrotou”? Como
ela