Constantino Guardador de Sonhos
O seu nome é único na aldeia para orgulho dos pais e desgosto da Tia-Elvira que sonhava dar ao seu primeiro neto o nome do pai dela. Desejo este que a nora não lhe concedeu. O choque entre gerações havia sempre de se afirmar. Até as vindimas já eram escassas, pois os terrenos haviam sido comprados por gente rica com o objectivo de mostrar ostentosas casas (o mundo, sem dúvida, estava perdido, na opinião da Tia-Elvira).
Constantino, uma criança como tantas outras preferia brincar a ir à escola ou mesmo ajudar a guardar o rebanho. Os pássaros eram a sua distracção e alegria, porque também ele sonhava em voar e viajar até outras paragens, quem sabe até Lisboa.
E como o sonho comanda a vida e com Constantino, não havia de ser diferente, este constrói um bote feito de canas que o levará rumo aos seus sonhos, ou melhor, a Lisboa. Enquanto lá não chega, guarda o seu barco no estaleiro do seu coração.
Alves Redol mostra-nos uma aldeia pobre, onde as gentes são simpáticas e humildes, mas iguais a tantas outras nos seus usos e costumes. Usos e costumes que ainda permanecem por estas aldeias e cidades nos dias de hoje.
O sonho é uma constante ao longo de toda a narrativa. O sonho de uma criança, o sonho de tantos homens que outrora foram crianças e que também sonharam e conquistaram, mais não fosse nas noites de luar. Afinal a vida não vale de muito sem os nossos sonhos!
A frase de que gostei mais:
“A professora não percebe nada de pássaros, nem de andar por aí, na brincadeira”. Para Constantino a escola não parece ter importância, quando comparada com a responsabilidade de cuidar dos ninhos onde crescem passarinhos que ele quer ouvir cantar. As brincadeiras que partilha com o seu amigo Manel transportam-no para fora de uma realidade em que ele, apenas uma criança, é obrigado a apoiar a família, guardando as