1. Introdução Na produção literária endereçada a crianças e jovens, o tema da morte encontra-se presente desde os mais remotos contos de fadas. Se notadamente na linha de tendência verista, temas muitas vezes considerados inadequados ou impróprios para crianças, como o sexo, a violência e a morte, possuem reiterada presença, tais temas também aparecem em textos que, ultrapassando os liames do verismo, possibilitam a imersão na fantasia, como é o caso de O Abraço (1995) de Lygia Bojunga Nunes. Nesta narrativa, observa-se, contudo, que a morte não surge apenas como um de seus temas. Percebe-se que Lygia realmente inova, ao inserir a morte como personagem da trama, de modo a surpreender e instigar o leitor. É tendo em vista a construção da imagem da morte e os movimentos do leitor implícito, que procederemos a uma leitura das referidas obras, a fim de verificar os efeitos estéticos gerados mediante os atos de apreensão do leitor. Para tanto, adotaremos, como perspectiva crítica, a Estética da Recepção formulada por Hans Robert Jauss e a Teoria do Efeito propugnada por Wolfgang Iser. 2. A Mulher mascarada Em O Abraço, a angústia de Cristina, personagem central da trama, decorre de uma experiência sexual amarga vivida na infância e revivida na juventude: o estupro sofrido pelo “Homem da Água”. Em vista do tratamento temático que recebe, fica evidente que a obra não se destina ao leitor infantil. Além disso, recursos responsáveis por promover a mediação com o leitor-mirim, como o maravilhoso e a antropomorfização, não se fazem presentes. Estes dados, somados à alta complexidade estrutural, nos permitem supor que a obra encontra eco maior em leitores mais maduros, os quais, espera-se, estejam mais preparados para lidar com temas tão pesados e com uma estrutura narrativa tão complexa. Nessa ordem de idéias, o leitor implícito aí configurado é um leitor jovem ou adulto, cujo horizonte de expectativas traga internalizado um considerável conhecimento vivencial, para que