Consciência e inconsciente na filosofia continental
O fenômeno que denominamos “consciência” parece estar diretamente ligado ao cérebro. Pelo menos, tudo nos leva a pensar deste modo, pois não temos conhecimento de estados de consciência na ausência de actividade cerebral (morte cerebral) ou em certos estados cerebrais vegetativos persistentes; além disto, estamos familiarizados com distúrbios da consciência imediatamente ligados a lesões ou malformações cerebrais e à acção de determinadas substâncias ou até mesmo de agentes patogénicos no cérebro.
Desde logo, a consciência interessa a um leque alargado de disciplinas das ciências da saúde e da vida que de certo modo giram em torno do cérebro, como a neuropsicologia, a psiquiatria, as neurociências, etc. Mas na medida em que os estados de consciência se reflectem em comportamentos directa ou indirectamente observáveis, a psicologia, bem como outras ciências sociais e humanas, centra-se de igual modo, explícita ou implicitamente, na consciência, sem contudo se concentrar necessariamente no cérebro.
Dada esta diversidade de disciplinas que se interessam pela consciência, não é de estranhar que os métodos de investigação acerca da consciência se apresentem em formas bastante diversas indo da experimentação comportamental ou cognitiva levada a cabo pela psicologia até ao “mapeamento” do cérebro pelas neurociências, passando pelos métodos não empíricos de disciplinas de carácter mais analítico ou especulativo, como a filosofia e a psicanálise, ou mesmo de áreas como a literatura e outras artes.
Isto mostra o maná que a consciência representa para nós. O facto é que a consciência interessa-nos profundamente, a todos os níveis, dos mais práticos aos mais especulativos. De certo modo, todas as questões fundamentais que continuam a ser fonte de acesas divergências de opinião — eutanásia, nomeadamente involuntária; aborto; responsabilidade legal; etc. — envolvem, em maior ou menor grau, a consciência. Nós queremos, nós