Conceito de inconsciente
Sigmund Freud
Quero expor, em poucas palavras e do modo mais claro possível, que sentido deve ser atribuído, no campo da psicanálise, e somente nele, ao termo "inconsciente".
Pode ocorrer que uma representação mental — ou qualquer outro elemento psíquico — esteja neste instante presente na minha consciência, no momento seguinte dela desapareça e, após um intervalo, reapareça inalterada na consciência, não devido ao acréscimo de uma nova percepção sensorial, mas a partir do que designamos como memória. Para explicar esse fenómeno, vemo-nos obrigados a supor que durante esse intervalo, embora tenha permanecido latente na consciência, a representação continuou presente em nossa psique. Contudo, quanto à configuração dessa representação no período em que esteve latente na consciência e simultaneamente presente na vida psíquica, não temos como fazer nenhuma suposição.
Porém, antes de prosseguirmos com nosso raciocínio, teremos de nos confrontar com uma objeção oriunda da filosofia: a de que a representação mental latente não existia de fato como objeto da psicologia, e sim de que se trata apenas de uma disposição física disponível para desencadear repetidamente a trajetória do mesmo fenómeno psíquico, ou seja, daquela mesma representação. No entanto, podemos replicar a essa objeção afirmando que uma teoria dessas estaria se servindo de recursos situados em domínios fora do campo da psicologia, ela simplesmente contorna o problema, agarrando-se à ideia de que "consciente" e "psíquico" sejam conceitos idênticos, e diremos que seria um equívoco negar à psicologia o direito de explicar, com recursos de seu próprio campo, fatos dos mais corriqueiros em nossa área como, por exemplo, a constatação da existência da memória.
Feito esse esclarecimento, prossigamos então e designemos como "consciente" apenas a representação que está sendo percebida e que está presente em nossa