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Harald Wasser
Freud não apresentou nenhuma teoria detalhada da autoconsciência. Na verdade, o uso que ele faz do conceito de "ego" pode, em primeiro lugar, levar-nos a considerá-lo erroneamente como "sujeito", "consciência", ou "autoconsciência". Contudo, tal interpretação de modo algum corresponde ao pensamento de Freud. Uma vez que o conceito psicanalítico de "ego" já foi discutido e examinado pormenorizadamente em capítulos anteriores, não é necessário considerá-lo aqui com a mesma profundidade e detalhamento. Assim, no que se segue, tratarei do problema da conexão entre o conceito psicanalítico de inconsciente e a autoconsciência, do tipo de tratamento que o conceito freudiano de "ego" recebe numa teoria da auto-consciência e do motivo pelo qual o conceito de sujeito deve, no interior da psicanálise, ser substituído pelo de sistema. Entretanto, deve-se sempre levar em conta que a teoria de Freud é empírica e, dessa forma, uma teoria psicanalítica da auto-consciência apresenta-se também como empírica (e não transcendental).
1. O Significado do Inconsciente e do Conceito Freudiano de Ego para uma Teoria Psicanalítica da Autoconsciência.
Manfred Frank, em sua recente e extensa obra intitulada Auto-Consciência e Auto-Conhecimento (Frank 1991), oferece uma interpretação da teoria de Freud. Com base numa análise da interpretação que Frank apresenta do conceito psicanalítico de inconsciente - complementarmente ao que já foi pormenorizado - poderei esboçar de um modo relativamente sucinto o significado do inconsciente em uma teoria psicanalítica da autoconsciência.
Segundo Frank, pode-se denominar todo "não-conhecido", no sentido freudiano, como algo "pré-consciente" ou "inconsciente", i.e., como uma "consciência de segunda ordem" (ibid., pg. 29). Isso também pode ser legitimado pela maneira freudiana de falar, na medida em que o ego "não é senhor em sua própria casa". Desse modo, espera-se da psicanálise que, mediante o tratamento