Como filosofar é aprender a morrer
Escritor e ensaísta francês, Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) é considerado por muitos o inventor do ensaio pessoal, debruçou-se sobre os dogmas da sua época e tomou a generalidade da humanidade como objeto de estudo. É considerado um céptico e humanista.´
Segundo Montaigne, a expressão morrer vai muito além de seu sentido natural que normalmente é empregado. Para ele, há duas formas de se deparar (ou ter a experiência) com a morte: o estudo e a contemplação. “Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade” (Ensaios, XX: Filosofar é aprender a morrer). A morte nos surpreende de várias formas, leva a todos sem distinção de raça, cor, nacionalidade, idade… De Reis e Rainhas ao Papa e ao próprio Jesus Cristo. É a única certeza deste mundo: de que um dia morreremos.
E para onde iremos? Ninguém sabe. É por isso que Montaigne compara o fato da morte com o filosofar. “Temo que tenhamos os olhos maiores do que a barriga, e mais curiosidade do que capacidade.”. E assim é o mundo hoje. Se filosofar é raciocinar tirando induções, argumentar, discutir com sutileza, Montaigne vai muito além. Todas as reflexões, argumentações que se observam neste mundo nos levam a um pensar único: não ter medo de morrer.
Até mesmo as Sagradas Escrituras revelam que não há a necessidade de se ter medo da morte ou mesmo do que vem antes ou após ela, pois todo o esforço tende à felicidade e o bem viver. Pensar na morte nos afasta do terrível sentimento que ela apresenta: o inesperado, o desassossego do desconhecido, o susto. Habituando-se a ela, tendo-a no pensamento, conclui-se que está próxima e que nada pode ser feito. É com tranquilidade que Montaigne almeja se deparar com a própria morte: “Quero (…) que a morte me encontre plantando minhas couves, mas despreocupado dela, e mais ainda de meu jardim imperfeito.”
Montaigne nos apresenta uma íntima relação entre a vida e a morte, impossível