Clara dos Anjos
“Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero:
- Mamãe! Mamãe!
- Que é minha filha?
- Nós não somos nada nesta vida
A frase dita não trás apenas o desespero de uma jovem humilhada, desonrada, grávida e abandonada por seu sedutor, o ardiloso homem branco, de uma família rica. Na declaração da personagem, existem diversos significados que trazem à tona a realidade da sociedade brasileira do início do século XX, são os gritos contidos de tantas outras vítimas, homens e mulheres que lutaram pela sobrevivência difícil, vencidos pela dura caminhada, de preconceito e humilhação, que infestam os subúrbios cariocas tão bem conhecidos e retratados pelo autor. Lima Barreto mostra ao leitor um universo produzido, e conduzido pelo branco, que fechava as portas à população negra, negando-lhe o direito de participar, da sociedade. Tal confirmação é fortemente mostrada pela passagem que o autor traz à Cassi Jones, que contava com a silencio das autoridades, que viam o comportamento dele como algo normal e que não necessitava de uma punição, porquanto as vítimas eram sempre pessoas pobres, de humilde condição, que não tinham grande influência na sociedade. No que se sabe às mulheres negras e mulatas, o preconceito era algo mais freqeunte, pois havia sempre um julgamento maior, tanto na cor da pele, como no gênero. O triste destino que esperava as jovens seduzidas e abandonadas, mostrado por Inês, apenas confirma, a exclusão imposta pela sociedade