Clara dos anjos
Esta obra inacabada do carioca Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) traz a marca indelével do retrato da sociedade urbana de então, fortes traços autobiográficos, crítica social, principalmente as discriminações de caracteres racial e econômico, estilo direto e perspicaz, sendo colocada, por alguns, entre as pré-modernistas brasileiras.
À primeira vista, parece haver certo maniqueísmo na construção dos personagens e das circunstâncias. Porém, se tais não viessem comprovados pela observação da realidade, mesmo que sob o filtro do escritor, poderíamos dizer que assim o é.
“Clara", nome de santa, reforçado com a locução adjetiva “dos Anjos”, descreve bem o perfil da protagonista ingênua vítima de um aproveitador. História que se repete nos dias de hoje em todas as classes sociais.
Lima Barreto desdobra-se em diversos personagens e os coloca nas situações que ele passou ou conheceu.
Dando-nos um impressionante retrato de seu tempo, mesclados as suas considerações de ordem ideológica, tem a destreza em não criar ranços com doutrinação descarada. O valor literário sobrepõe-se a um possível messianismo e proselitismo.
Assim, vai traçando a saga da filha do carteiro Joaquim dos Anjos, amante do violão e das modinhas. O tocador de flauta, compositor de valsas, tangos e acompanhamento de modinhas organizava encontros aos domingos em sua casa com os amigos para jogar o solo.
Dentre os frequentadores da casa do mineiro de nascença estavam o compadre Senhor Antonio da Silva Marramaque e Eduardo Lafões, principalmente. Marramaque era poeta modesto e assíduo, no passado, de rodas literárias famosas e abastadas. Lafões, guarda de obras públicas, era nascido português.
Certo dia, em meio a conversas sobre política e outros temas sociais, Lafões pede autorização ao anfitrião para levar um mestre do violão e da modinha até a casa, aos encontros de domingo. Este era nada mais, nada menos, que Cassi Jones, ou melhor, Cassi