Clara dos Anjos
A LEITURA URBANA DE LIMA BARRETO
EM CLARA DOS ANJOS
ADRIANA CARVALHO SILVA1
RESUMO
CONSIDERANDO A INTERAÇÃO GEOGRAFIA-LITERATURA, O ARTIGO ABORDA A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL PRESENTE NO
ROMANCE CLARA DOS ANJOS, DE LIMA BARRETO.
EM SEU PRIMEIRO ROMANCE ESBOÇADO, O ESCRITOR NOS APRESENTA SUA LEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
TRAÇANDO EM CATEGORIAS COMUNS A ESCRITORES E GEÓGRAFOS UM PANORAMA DA CIDADE NA TRANSIÇÃO PARA O
SÉCULO XX.
O TEXTO DE LIMA BARRETO GUARDA A EXPRESSÃO MÁXIMA DE SUA ESPACIALIDADE E TEMPO E OS CONFLITOS QUE
ENVOLVEM SEUS PERSONAGENS ESTÃO NO COTIDIANO URBANO. A CIDADE DO ROMANCE NASCE DA SENSAÇÃO, VIVÊNCIA,
PERCEPÇÃO E CONCEPÇÃO DO AUTOR E CONSTITUI SUA EXPERIÊNCIA COM O LUGAR.
PALAVRAS-CHAVE: REPRESENTAÇÃO, LUGAR, CIDADE.
O romance Clara dos Anjos começa a ser escrito
O Rio de Janeiro da primeira versão é o de an-
em 1904 e, embora não passe do roteiro, dois capí-
tes da Abolição da escravatura. A ação se desen-
tulos inteiros e o esboço de mais dois ou três nas-
volve até o regime republicano, por volta de 1904
ceu da intenção do autor de escrever uma obra no-
e 1905. Clara é “deflorada” no ano seguinte à mor-
tável sobre a história da escravidão negra no Brasil.
te do pai, no dia 12 ou 13 de maio, a própria data
O livro só foi concluído entre 1920 e 1922 e
da Abolição.
Lima Barreto não o viu publicado. O romance já
Nessa primeira versão de Clara dos Anjos Lima
não seguia o esboço original. No entanto, o pró-
Barreto descreve a formação da cidade, o papel
prio autor afirma: “ Saiu coisa bem diferente, se
dos meios de transporte na expansão urbana, des-
bem que o fundo seja o mesmo”1.
tacando a segregação espacial reproduzida pelos
Nas duas versões Clara é vítima da sua condi-
bondes e trens. As habitações compõem o pano-
ção de mulher, negra e pobre. A história é a mes-
rama que abriga os personagens do romance e entre
ma: a jovem mulata que se deixa