CiÊncias
A estética de Theodor Adorno e Walter Benjamin José Manuel Silva
Fevereiro de 1997
A citação de Walter Benjamin que dá o título ao presente trabalho servirá de mote na discussão mantida em torno da obra de arte na contemporaneidade. O facto novo que aqui emerge é viver-se numa era que pulverizou por completo os modelos e categorias antigas do Belo, devido à assunção do conceito de "reprodutibilidade técnica" que integra a obra estética na esfera industrial da cultura. Perante uma época que tem como única certeza o seu fim, é lícito perguntar, à maneira kantiana, "O que podemos esperar?" e "O que devemos fazer a seguir?". As respostas a estas questões serão procuradas, sobretudo, na fecundidade das divergências entre Theodor Adorno e Walter Benjamin, representantes máximos da Escola de Franckfurt. A busca aqui proposta prende-se com a ideia de que Adorno, ao assumir como princípio da sua crítica a não identidade entre razão e real, leva até ao fim uma dialéctica negativa de onde não se pode escapar, enquanto Benjamin assimila e transforma toda esta negatividade em admiráveis mundos novos, infinitamente geradores de possibilidades e fascínio. Se aceitarmos a noção de que Hegel foi "o inventor de um triciclo a que chamaram dialéctica"(Melo, 1977: 16), podemos dizer que na teoria adorniana falta uma das rodas ao veículo ó a "síntese" é sempre impossível de alcançar. Para Adorno, a transformação que ocorre no universo da cultura dá-se como um acidente repressivo, e a razão aí só pode erigir-se como negatividade. Este percurso de crítica do pensamento moderno sobre si próprio é levado por Adorno a formas paroxísticas, que estão patentes no paradoxo da razão que intenta refutar a própria razão. O único sentido da crítica, e que permite à razão não se transformar em anti-razão, é o carácter não conclusivo de uma reflexão dialéctica que não cessa de recolocar em questão os seus próprios resultados. Esta é, aliás,