Ciências política
ESTLUND, D. Democratic Authority: A Philosophical Framework. Princeton/Oxford: Princeton
University Press, 2008.
RESENHA
GILSON MATILDE DIANA
ANDRÉ LUIZ CERRI DA SILVA
PAULO ROBERTO FALCÃO DE ARAÚJO
CLAUDIO ARAUJO REIS
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A SABEDORIA DA DEMOCRACIA
Durante a maior parte da história, a democracia foi desprezada como uma forma política inferior – a regra do povo, ou “dos muitos”, era logo identificada como a regra da ralé, da escória.
Herdando do povo a volubilidade e a instabilidade, a democracia estava sempre perigosamente próxima do arbítrio e da anarquia, com toda a violência que se costuma associar a isso.
O momento de inflexão, no que se refere ao reconhecimento do valor da democracia, só viria no rastro das grandes revoluções do final do século XVIII. Ao longo do século XIX, a democracia, em alguma de suas formas, pouco a pouco ganha o status de melhor – ou, senão, de menos pior – forma de governo. Mas o que faz da democracia uma forma desejável de governo? O que a torna, em particular, a mais desejável?
Antes de prosseguir, podemos ainda nos perguntar brevemente sobre o sentido dessa desejabilidade. Um ideal de bom governo deve incluir, por um lado, uma referência a determinados valores fundamentais: liberdade, igualdade costumam estar entre os mais lembrados. Um bom governo, portanto, precisa encarnar exemplarmente esses valores. Mas esperamos igualmente de um bom governo que demonstre mais do que fidelidade a valores fundamentais: queremos que seja também capaz de nos levar a boas decisões coletivas, a boas respostas aos problemas coletivos que se apresentam ao longo de nossa vida social.
Ora, Platão já acusava a democracia de deixar as decisões mais importantes nas mãos dos menos sábios, o que conspiraria fortemente contra a crença de que as decisões democráticas seriam as melhores – e os argumentos, assim como as alegorias e analogias eloqüentes que