ciências humanas e sociedade
As ciências humanas nasceram com intenções de compreender, explicar e prever. Compreender e explicar a realidade social, bem como prever seu funcionamento para eventualmente domina-la, sendo exercidas em resposta às necessidades concretas da sociedade. Elas surgiram em sua forma moderna na segunda metade do século XIX, inspiradas no modo de construção do saber então preponderante em ciências naturais. Mas e o século XX que assiste a explosão das ciências humanas. As revoluções na ordem econômica e política sucedem-se e propagam-se pelo resto do mundo. Novos fatores intervêm; fatores que aumentam a necessidade de se servir das ciências humanas para compreender e intervir: as duas guerras mundiais; as crises, tal como a dos anos 30; os confrontos ideológicos, inclusive o que opõe o socialismo ao capitalismo; o subdesenvolvimento de uma importante parte do planeta e o crescimento das desigualdades; etc. No Brasil, é somente a partir da segunda metade deste século que as ciências humanas no seu conjunto atingirão os níveis e padrões científicos que desde o seu início já prevaleciam na Europa. Pode-se explicar essa defasagem pela existência de dois obstáculos principais. Um primeiro, refere-se a não autonomia do pensamento científico-racional em relação a ordem patrimonial e escravocrata dominante no Brasil, durante todo o século XIX. Segundo, a resistência cultural aos fundamentos de uma concepção científica do funcionamento das instituições e da origem dos comportamentos humanos, própria do contexto dominado por valores e interesses religiosos e conservadores, dos quais o clero e os bacharéis