Ciência política
GERMINAL (1885)
“Étienne deixou o caminho de Vandame e pegou a estrada asfaltada. À direita, via Montsou; à sua frente estavam os escombros da Voreux, o buraco maldito onde três bombas trabalhavam sem parar. Em seguida avistava as outras minas no horizonte — Vic-toire, Saint-Thomas e Feutry-Cantel —, enquanto ao norte as chaminés dos altos-fornos soltavam fumaça no ar transparente da manhã. Se não quisesse perder o trem das oito horas devia se apressar, pois ainda tinha seis quilômetros pela frente.
Debaixo de seus pés, prosseguiam os golpes profundos das picaretas. Os mineiros estavam todos lá, embaixo da terra, e ele os ouvia como se o estivessem seguindo. O sol de abril brilhava em toda a sua glória, aquecendo a terra, em que germinavam sementes. A vida desabrochava com toda a força, os brotos apareciam em folhas verdes, a relva nascia. Em toda parte as sementes cresciam e brotavam para fora da terra, em busca de luz e calor. E ainda, cada vez mais distintamente, como se estivessem se aproximando do sol, os operários cavavam. Aos raios inflamados do sol, naquela manhã de juventude, o campo estava tomado por aquele rumor. Os homens brotavam, era um exército coberto de carvão, vingador, que germinava lentamente da terra, para crescer nas colheitas do século seguinte. A germinação daquele exército logo faria explodir a terra (Germinal. Cia das Letras, 2000, p. 237-238)”.
O trecho acima foi extraído do romance naturalista Germinal de Emille ZOLA