Cinema
O cinema, como outras manifestações da época, exprimiu as mudanças na sensibilidade e nas artes provocadas pelas técnicas modernas ao contribuir para a proliferação das imagens (do cotidiano) no cotidiano (urbano) e a consolidação da percepção do mundo como espetáculo.
A historiografia do cinema brasileiro vem lentamente corrigindo algumas de suas deficiências, relacionadas a preconceitos, falta de metodologia e periodização de fundo ideológico. Mas essa fragilidade e incompletude ainda trazem implicações negativas sobre o ensino universitário da história do cinema. Continua-se a enfatizar a produção, em detrimento de outros âmbitos do cinema, como a distribuição, a exibição e a sua apropriação pelo público; considerando-se a produção, segue o desinteresse pelo cinema silencioso e, nesse conjunto, o desinteresse pelos documentais.
Paulo Emílio defendeu a necessidade de devolver à produção documental o seu lugar na história do cinema brasileiro. A fim de demonstrar as potencialidades do estudo daquela filmografia, ele sugeriu duas categorias de análise, identificadas a partir da recorrência, nos filmes produzidos até 1914, de duas temáticas e/ou abordagens. A primeira foi o culto das belezas naturais do País, fundado na necessidade de encontrar uma compensação contra o atraso de uma nação recém saída de um regime monárquico e escravocrata, a que denominou “berço esplêndido”. A segunda foi o registro das atividades dos dirigentes políticos da nação, entre outras manifestações destinadas a legitimar e estabilizar as instituições do novo regime, republicano, a que chamou “ritual do poder”.
Na década de 1910, a Capital Federal já apresenta uma fisionomia renovada, sobretudo na região central, sendo paralelamente instituídos novos modos de circulação, comportamentos e práticas culturais.
No entanto, caberia ao cinema o papel mais importante na intensificação deste processo. Ele viria transformar definitivamente as formas de comunicação e os