Cinema e sexualidade
33(1): 81-98 jan/jun 2008
Guacira Lopes Louro
RESUMO – Cinema e Sexualidade. Distintas posições-de-sujeitos e práticas sexuais e de gênero vêm sendo representadas, nos filmes, como legítimas, modernas, patológicas, normais, desviantes, sadias, impróprias, perigosas, fatais. Ainda que tais marcações sejam transitórias ou, eventualmente, contraditórias, é possível que seus resíduos e vestígios persistam, algumas vezes por muito tempo, e que venham a assumir significativos efeitos de verdade. Recorro a filmes dirigidos ao grande público para analisar representações recorrentes no cinema (a partir dos anos 1950) e transformações que vêm sendo observadas nas últimas décadas. Palavras-chave: Cinema. Gênero. Sexualidade. ABSTRACT – Cinema and Sexuality. Sexual and gender subject positions and practices have often been represented in movies as legitimate, modern, pathological, normal, deviant, healthy, inappropriate, dangerous, fatal… Although transitory or contradictory these nominations still persist, now and then, and may have important truth effects. In this article, recurrent representations in the cinema of these positions, and transformations that occurred in the last decades are analysed in mainstream movies. Keywords: Cinema. Gender. Sexuality.
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Introdução
Quando digo que sou apaixonada por cinema, não tenho qualquer pretensão à originalidade. Ir ao cinema, comentar filmes, ensaiar críticas ou, simplesmente, tornar-se fã de artistas e diretores são práticas comuns para grandes parcelas da população urbana. A tal “sétima arte” é, efetivamente, bastante popular. Operando sobre outras artes ou misturando-as, chegou a ser chamada de “arte impura” e “parasitária” por Alain Badiou (2004), mas a qualificação provavelmente nada tem de depreciativa, apenas ajuda a observar que o cinema foi eficiente ao se valer de outras formas de arte, tanto que acabou por se tornar uma das mais consumidas. Refletir sobre seu impacto ou sobre seus