Cinegética
Portugal era, na Idade-Média, se-gundo afirma Costa Lobo, um vasto matagal entressachado, afora algu-mas cidades e vilas, de pequenas povoações circundadas de breves arroteios. As florestas sucediam-se e os matos eram tão elevados e tão cerra-dos, que a luz mal neles penetrava. A densidade das flo-restas hispânicas era tão grande, que deu origem a um pro-vérbio espanhol, segundo o qual um esquilo podia caminhar dos Pirinéus a Gibraltar, sem pôr as patas em terra. Os caminhos de pé posto eram escassos, e, por toda a parte, rompia a urze. As pastagens eram poucas, e pobres de alimento; os terrenos agricultados eram em pequeno nú-mero (((23) Por isso, nos princípios da Idade-Média, a caça era menos um prazer do que uma necessidade, escreve Malet. O çenhor caçava para se alimentar e para alimentar os seus homens.)). Silveira da Mota, referindo-se ao período que precedeu a morte de D. Sancho II, descreve: «Bandos de salteadores, para quem o viver era acaso e a morte espec-táculo quotidiano, assolavam os campos, infestavam as povoações, e refugiando-se nos lugares de asilo zombavam do castigo...» A propriedade era invadida e devastada não sõ pelos homens, mas também pelos animais. Os javardos, linces, lobos e outros animais selváticos infestavam o país (K). Até os ursos assaltavam os viandantes,