Cidades
Nesse sentido, o artigo aqui proposto procura investigar o abandono indiscriminado de crianças no Recife, entre os anos de 1789 a 1832,1 ao mesmo tempo que busca compreender onde se originavam essas crianças que ninguém queria e por que eram expostas, muitas vezes para a morte, em uma atitude que sinalizava uma certa indiferença e desinteresse da mãe pelo filho que botava no mundo. Essas questões se tornaram um facho de luz a orientar minha incursão nas relações amorosas, sacramentadas e/ou duvidosas, nas práticas discursivas e não-discursivas da pastoral cristã católica, e, por fim, nas arritmias do abandono no Recife com a criação, em 1789, de uma instituição para acolher e criar os filhos alheios: a Casa dos Expostos. As relações amorosas no Brasil colonial
Amar o homem ou a mulher por quem o coração palpita, num "fogo que arde sem se ver", como dizia Camões,2que não se esvai em "trêmulos harpejos", que não se consome "só [em] delírios e desejos",3 atina para uma forma diferente de amar, de um amor romântico4 que une ágape e eros, "o amor a si e o amor ao outro",5 onde a reciprocidade e a livre escolha dos cônjuges urdem as teias tênues e frágeis das relações amorosas. Esses sentimentos e valores, tão presentes nos dias atuais, eram desconsiderados ao se tratar dos acordos matrimoniais no Brasil colonial, os quais tinham como fundamentos alianças familiares e como pressuposto a igualdade social entre