Cidadela
190497 palavras
762 páginas
O texto de que dispomos o manuscrito iniciado em 1936. Saint-Exupry passava noites em claro gravando as suas desco- bertas interiores e, na manh seguinte, uma datilgrafa escre- via mquina tudo, sem modificar uma slaba, conservando as incorrees e as contradies. No estamos em face de um sistema organizado de idias ou de um argumento elabo- rado no se pode dizer onde acaba nem onde comea a vida da Cidadela impossvel apontar sem receio de rro uma linha central definitiva. H no livro imagens que se repetem, in- tuies ainda encobertas, insinuaes e reticncias. E mesmo passagens ininteligveis. Nestas condies, a obra exige do leitor muito mais finura de esprito que qualquer outra obra sistemtica. A inquietao criadora do artista, exposta curiosidade intelectual, despro- tegida no seu nascimento, obriga-nos a completar e a unificar o que se encontra fragmentado e aparentemente desconexo. Seria um despropsito procurar na Cidadela formulaes doutrinrias ou, enfim, solues. Mas inquestionvel o acrta de quem a abrir para encontrar um alimento, um exeitante para o esprito. Se o autor tivesse publicado pessoalmente ste livro - ainda que corrigido -, teria dado ao pblico uma extrema prova de confiana no seu talento, na sua riqueza interior, na sua inte- ligncia e sensibilidade. Ora, essa confiana requer da nossa parte uma correspondncia. E s com as imensas reservas de quem sabe correr um risco, que nos atrevemos a sugerir uma interpretao, depositando tambm no autor uma confian- a capaz de prescindir das imperfeies, prprias de tudo o que no se terminou. Dissemos que a Cidadela no d solues. Mas o que h ento nesta Cidadela Dir-se-ia mov-la a lucidez de uma ter- nura que medita, debruando-se sbre o corao do homem. Tendo perdido a f na juventude, a experincia do tdio que o perpassa na ausncia de Deus impele-o a buscar algo que d sentido vida. A magia das palavras que recria, por assim dizer, traduz persistentemente esta aspirao de encontrar o essencial. E a aurola de tristeza das