Cidade das letras
* Os próprios conquistadores que as fundaram perceberam progressivamente, no transcurso do século XVI, que se haviam afastado da cidade orgânica medieval em que haviam nascido e crescido para entrar em uma nova distribuição do espaço, que enquadrava um modo de vida.
Tiveram que se adaptar dura e gradualmente a um projeto que, como tal, não escondia sua consciência racionalizadora, não lhe sendo suficiente organizar os homens dentro de uma repetida paisagem urbana, pois também requeria que fossem moldados a um destino futuro, do mesmo modo sonhado de forma planificada, em obediência as exigências colonizadoras, administrativas, militares, comerciais, religiosas, que se iriam impondo com crescente rigidez.
* A chegada no Novo Mundo significou também o ingresso no capitalismo expansivo e ecumênico, ainda carregado do missioneirismo medieval.
Ainda que preparado pelo espírito renascentista que o desenha, este molde da cultura universal que se desenvolve no século XVI somente adquiriria seu aperfeiçoamento nas monarquias absolutas dos Estados Nacionais europeus, a cujo serviço militante se somaram as Igrejas, concentrando rigidamente a totalidade do poder numa corte, a partir da qual se disciplinava hierarquicamente a sociedade. A cidade foi o mais precioso ponto de inserção na realidade desta configuração cultural e nos deparou com um modelo urbano de duração secular: a cidade barroca.
* Pouco se podia fazer este impulso para mudar as urbes da Europa, pela sabida frustração do idealismo abstrato diante da concreta acumulação do passado histórico, cuja obstinação material freia qualquer livre vôo da imaginação. Em compensação, dispôs de uma oportunidade única nas terras virgens