Cidade administrativa
Introdução
Durante o ano de 2008, discursos sobre a “cultura japonesa” ganharam atenção considerável tanto das autoridades políticas como dos meios de comunicação devido às comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil. Uma das principais consequências disso foi a difusão e a celebração de vários símbolos e virtudes considerados “típicos” da cultura japonesa. imagens da bandeira japonesa (hinomaru) eram exibidas em revistas, jornais e na televisão. o hino japonês (kimigayo), presente
* Agradeço a orion Klautau pelo incentivo e pelos comentários durante a preparação deste trabalho. sou grato também aos pareceristas da RBCS por suas observações e sugestões.
Artigo recebido em agosto/2009 Aprovado em julho/2010
em todos os eventos comemorativos, talvez nunca tenha sido tocado com tanta frequência. e a visita de um membro da família imperial, o príncipe herdeiro naruhito, serviu para reforçar o clima de encantamento com a tradição japonesa. Além disso, as comemorações eram invariavelmente acompanhadas de louvores às virtudes “japonesas” do trabalho e do estudo, que teriam sido a causa da ascensão social dos imigrantes japoneses na sociedade brasileira. no entanto, esse discurso celebratório começa a apresentar sérios problemas quando examinado mais cuidadosamente. tomemos, por exemplo, o caso do hinomaru e do kimigayo. Poucos no Brasil chegaram a lembrar que ambos só foram oficializados como a bandeira e o hino japoneses em 1999 (até então seu uso não tinha nem reconhecimento nem obrigatoriedade legal), através de uma medida polêmica duramente criticada por alguns dos principais intelectuais japoneses e por diversas minorias,
RBCS Vol. 26 n° 75 fevereiro/2011
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reVistA BrAsiLeirA De CiÊnCiAs soCiAis - VoL. 26 n° 75 cultura japonesa, bem como de seu contexto histórico, a fim de possibilitar uma compreensão mais crítica e informada. Com base neste panorama,