Chiquinha

Música 1
A Brasileira
Chiquinha Gonzaga
Eu adoro uma morena sacudida
De olhos negros e faces cor de jambo
Lábios rubros, cabelos de azeviche
Que me mata, me enfeitiça, põe-me bambo
A cintura, Meu Deus, é delicada
O seu porte é faceiro e bem decente
As mãozinhas são enfeites, são berloques
Que fazem enlouquecer a toda gente
Ai morena a quem amo, a quem adoro
Não me sai um só momento da idéia
É faceira, dengosa e muito chique
Tem um pé... que beleza, que tetéia!
Há segredos, quem diz, naquele corpo
Tremeliques, desmaios, sensações
Que nos põe a cabeça andar à roda
Sonhando com delícias, com paixões
Seus dentes são marfim de alto preço
Sua boca um cofre perfumado
O resto do corpinho uma delícia
O melhor é não dizer, ficar calado
Ai morena a quem amo, a quem adoro
Não me sai um só momento da idéia
É faceira, dengosa e muito chique
Tem um pé... que beleza, que tetéia!

A partir da análise desta música e avaliando o contexto histórico século
IX, nota se nesta obra da compositora Chiquinha Gonzaga traços fortes do endeusamento da mulher negra, referência a sua sensualidade, ao seu encanto, ao corpo escultural e belo, porém coisificado. Menciona os cabelos escuros, os lábios carnudos e a cintura fina tão comum na mulher afro brasileira. Estas referências é Chiquinha fazendo alusão ao ritmo africano Lundu - um ritmo musical que chegou ao Brasil ainda no século XVI e aqui sofreu influências de alguns ritmos indígenas como o Caruru e o Cateretê, tornandose assim um ritmo afro-brasileiro. O poeta Gregório de Matos Guerra em 1648 descreveu o Lundu como: “Simples batuque negro com uma coreografia extremamente sensual e insinuante, o Lundu sai das senzalas e das ruas e entra nos palácios para tornar-se o lundu de salão, a dança preferida dos segmentos burgueses e aristocratizados da sociedade” (Caldas, 1943: 8). Para a Igreja e alguns intelectuais da época, o Lundu era considerado um escândalo, um verdadeiro atentado ao pudor e aos bons costumes da família.
Vemos algo negativo