CHASTEL E A VIS O PROFUNDA DAS IMAGENS
Por Kelvin Falcão Klein*
Segunda-feira, 17 setembro, 2012, às 14:06
Sandro Botticelli, ils para “A Divina Comédia”, de Dante. ©Alinari Archives
Arte e humanismo em Florença, de André Chastel, é um caudaloso comentário sobre as imagens da Renascença – é a partir delas que se movimenta o trabalho crítico. Ao esmiuçar os detalhes de uma série de imagens intimamente ligadas entre si, Chastel revive também as formas de vida e de pensamento dos florentinos dos séculos XV e XVI. Por baixo da fixidez da imagem, cruzam-se inúmeras percepções, prioridades, filosofias e perspectivas de mundo.
Um exemplo, entre tantos possíveis: a repercussão das leituras de Dante nas pinturas do Renascimento, especialmente nos trabalhos de Luca Signorelli (c. 1445 – 1523) e Sandro Botticelli (c. 1445 – 1510). Dois pintores de altíssimo nível técnico, contemporâneos, trabalhando na mesma região, escolhem o mesmo tema – e realizam obras diametralmente opostas.
Ao esmiuçar os detalhes de uma série de imagens intimamente ligadas entre si, Chastel revive também as formas de vida e de pensamento dos florentinos dos séculos XV e XVI
Os dois artistas, familiarizados com o “novo humanismo” florentino, trouxeram “uma interpretação pessoal e elevada da Comédia”, escreve Chastel. Botticelli recebeu o encargo de ilustrar a Comédia de seu principal mecenas, o banqueiro Lorenzo di Pierfrancesco. Seus desenhos foram feitos em folhas grandes de pergaminho, e o trabalho ocupou o final de sua carreira.
Chastel chama a atenção para a “vivacidade de traços” e para a “leveza” das formas desenhadas por Botticelli, que transitam por um espaço “heterogêneo e móvel”. “Botticelli não está mais representando acontecimentos nem gestos”, argumenta Chastel, “com admirável economia de recursos gráficos, ele reúne movimentos sutis de alegria, desamparo, abandono”.
A interpretação que Botticelli oferece de Dante em seus desenhos vai muito além da “minúcia gótica” e da precisão do