do outro lado do alto-falante
Este capítulo tem dois objetivos principais: um deles é a discussão de idéias e práticas precursoras da música eletroacústica, encontradas não apenas no desenvolvimento de instrumentos musicais eletroeletrônicos, mas também na música gravada, no rádio e na gravação de sons quaisquer. O segundo objetivo está ligado às mudanças ocorridas com o próprio ouvinte, que passa a contar com uma grande autonomia frente ao fenômeno musical, questão tratada com detalhes na seção 2.7: “Do lado de cá do alto-falante”.
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2. O outro lado do alto-falante
A partir do final do século XIX, a invenção e o desenvolvimento de novos meios e instrumentos de reprodução, transmissão e produção de sons passam a alterar profundamente a percepção sonora (incluindo-se a musical), que desde então deixa de estar intrinsecamente ligada ao aqui-e-agora dos eventos sonoros.
Estas grandes transformações – tanto tecnológicas quanto perceptivas – podem ser unificadas através de uma característica comum: a escuta mediada por altofalantes.
A imagem metafórica aqui usada – do outro lado do alto-falante1 – está ligada à percepção e imaginação do ouvinte frente a eventos sonoros acontecidos em outros momentos e locais, ou ainda produzidos por gestos físicos que não apresentam uma relação causal (e energética) com seu resultado sonoro. Aquilo que o ouvinte percebe como algo acontecendo “do lado de lá” depende tanto das diferentes características técnicas de cada um dos meios utilizados quanto de sua própria experiência e fantasia.
A abordagem dos novos meios de reprodução e transmissão sonora
(disco, rádio, gravação) pode ser feita de modo praticamente independente do desenvolvimento de novos instrumentos voltados à produção de sons, em suas décadas iniciais; a partir de então, estes processos vão aos poucos se amalgamando. A eletrificação da gravação, ocorrida nos anos 1920, inicia o processo de imbricação entre as técnicas de