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– Pelo jeito é o carburador.
Olhou o interior do carro, deu uma risadinha irônica: – É lógico que não pega! O dínamo está molhado! Enxugou o dínamo com uma estopa: o carro pegou. Eu se fosse o senhor mandava fazer uma limpeza nesse carburador – insistiu ainda: – Vamos até lá na oficina.
Preferi ir embora. Perguntei quanto era.
– O senhor paga quanto quiser.
Já que eu insistia, houve por bem cobrar-me cinco cruzeiros.
Cheguei ao Rio e fui direto ao Haroldo, no
Leblon, que me disseram ser um monstro no assunto: – Carburador? – e o Haroldo não quis saber de conversa: – Isso é platinado, vai por mim.
Cutucou o platinado com um ferrinho. Fui embora e o carro continuava se arrastando aos solavancos. – O platinado está bom – me disse o Lourival, lá na Gávea: – Mas alguém andou mexendo aqui, o condensador não dá mais nada. O senhor tem de mudar o condensador.
Mudou o condensador e disse que não cobrava nada pelo serviço. Só pelo condensador. No dia seguinte o carro se recusou a sair da garagem.
– Não é o diafragma, não é o carburador, não é o dínamo, não é o platinado, não é o condensador
– queixei-me, deitando erudição na roda de amigos.
Todos procuravam confortar-me:
– Então só pode ser a distribuição. O meu estava assim...
– Você já examinou a entrada de ar?
– Para mim você está com vela suja.
E recomendavam mecânicos de sua preferência: – Tem uma oficina ali na Rua Bambina, de um velho amigo meu.
– Lá em São Cristóvão, procure o Borracha, diga que fui eu que mandei.
– O Urubu, ali no Posto 6, dá logo um jeito nisso. Não procurei o Urubu, nem o Borracha, nem Zé Para-lama, nem o Caolho dos Arcos, nem o
Manquitola do Rio Comprido, nem o Manivela de
Voluntários, nem o Belzebu dos Infernos: esqueci o automóvel e fui dormir. Pela minha imaginação desfilava um lúgubre cortejo de tipos grotescos,