Cesário verde

ASPETOS-CHAVE DA POÉTICA DE CESÁRIO VERDE

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade,
Mas o modo como olhava as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para as árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos…

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros…

Alberto Caeiro

☺ José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa em 1885.

☺ Filho de pai abastado, comerciante e agricultor, esteve desde cedo familiarizado tanto com a cidade como com o campo; com o balcão e com a terra.

☺ Aos 18 anos, publica os seus primeiros versos, não tendo sido bem recebidos por Ramalho Ortigão, Teófilo Braga e Fialho de Almeida.

☺ Morre aos 31 anos, vítima de tuberculose, em Caneças, para onde se deslocara à procura de bons ares.

☺ A partir da leitura do poema «Ao entardecer, debruçado pela janela» de Alberto Caeiro, podemos descortinar algo mais acerca da personalidade de Cesário. Na verdade, ele é o camponês que se sente aprisionado na cidade, como se pode verificar através do uso do oxímoro «preso em liberdade». Na vida de Cesário assiste-se a uma fusão entre dois mundos: a cidade e o campo, já que ele olha para a cidade e o que vê são elementos típicos de uma paisagem campestre. Se não vejamos: as «casas», as «ruas» e as «coisas» são, respectivamente, «árvores», «estradas», «flores/campos», logo, o seu olhar para a cidade é o de um homem do campo. Por outro lado, dos versos de Alberto Caeiro, depreende-se que a tristeza invadia o coração de Cesário («Por isso ele tinha aquela grande