Cavalo Marinho de Condado -PE
Entre as derivações do Bumba-meu-boi em Pernambuco é o Cavalo-Marinho que se sobressai. Este folguedo mescla a música com interpretações cênicas e elementos plásticos, caracterizando assim a definição de Mário de Andrade de “dança dramática”. A brincadeira apresenta, singularidades de acordo com os diferentes municípios em que ocorre.
Na origem do estiveram presente os trabalhadores rurais, os cortadores de cana da região da Zona da Mata pernambucana e paraibana. Alguns cientistas sociais falam da relação da brincadeira com o cotidiano desses trabalhadores38. Os assuntos da vida, a violência dos engenhos de açúcar, a relação de força, exploração e certa cordialidade entre patrões e empregados, ou escravo e a questão da mulher, são temas recorrentes no folguedo e têm ligação direta com o mundo de tensão vivido pelos seus brincantes.
Grande parte das personagens do Cavalo-marinho surgiu das relações codificadas do ambiente dos engenhos: escravos, empregados, capitães, senhores, cobradores, mulheres fogosas, capitães-do-mato, bêbados, soldados, comerciantes, bodegueiros, verdureiros, doutores, bobos, valentões, velhos doentes, vaqueiros; animais (como a onça, os bodes, o boi, a ema, o macaco, a burra, a cobra, o urubu), seres fantásticos (como o Babau, o Parece-mas-não-é, a Caipora e o Morto-carregando-vivo), entre outros.
A origem do Cavalo-marinho como uma herança dos escravos africanos que, nas senzalas o inventaram, junto com a capoeira, o coco, o maracatu e o Bumba-meu-boi. Dizem ainda que tiveram até apoio dos senhores de engenho, pois ao assistirem a apresentação gostaram e a incentivaram, principalmente da parte da dança dos arcos (confeccionados na época por bambu, cipó e folhas de coco).
Deve-se notar aqui que a característica participativa do Cavalo Marinho não constitui simplesmente uma comunhão festiva e alegre, mas pode incorporar também as tensões, os conflitos e a violência presentes no universo cotidiano do campo,